quarta-feira, 30 de março de 2011

Um guia para escolher o peixe que vai à sua mesa

Encaminhando...
Taí uma questão que a gente facilmente empurra pra dentro de uma gaveta, fecha bem e promete que volta depois pra pensar a respeito. Porque mexe com a nossa conveniência, com os nossos padrões, com o nosso prato. E começam as desculpas: "Ah, mas eu não tenho tempo pra cozinhar não, PRECISO das minhas latinhas de atum!" ou "Nossa, mas o moço do Globo Repórter disse que salmão faz muito bem e que eu TENHO que comer uma vez por semana!".
O fato é: pode ser que você continue comendo bacalhau até o fim dos seus dias, mas é muito provável que seus netos ou bisnetos não saibam nem que gosto ele tem. Porque acaba, né? Tudo que é tirado do seu devido lugar de um jeito errado, acaba. E aí não tem fazenda ou cercadinho que resolva - na maioria das vezes, só piora.
Eu já tinha me deparado com o assunto algumas vezes. Muita gente boa já falou a respeito: a Carla Pernambuco, o Luis Guerreiro, a Mariana. Agora achei que valia a pena comentar porque encontrei um post super bacana da Lucia Malla, no qual ela apresenta um guia para o nosso consumo de peixes. Autorizada pela própria, reproduzo aqui:

    1) NUNCA compre cação. NUNCA coma cação, independente de onde você more. Tubarões ou cações são peixes ameaçadíssimos de extinção no mundo inteiro e ao comê-los, você incentiva o tenebroso comércio de barbatanas pra China. Além do mais, tubarão/cação, como animal do topo da cadeia ecológica, é um dos peixes que mais acumula mercúrio na sua carne, o que é péssimo para a saúde humana. Tubarão não é saudável.
    2) Abuse das tilápias no seu cardápio. Tilápias são mais sustentáveis e fáceis de serem criadas para consumo, e geram menos problemas para o ambiente. Como tilápia é uma "marca" de peixe que as pessoas acham "inferior" por sua carne ter naturalmente um gosto de terra, criaram o "St. Peter", que nada mais é que uma variedade de tilápia melhorada criada em cativeiro com carne mais branca e alimentada com ração, o que não deixa que a carne fique com o gosto da terra.
    3) Evite bacalhau sempre que possível. O bacalhau é todo importado de longe. Além disso, seus estoques nos locais onde pode ser encontrado no planeta estão à míngua. O preço do bacalhau é assustadoramente caro, e isso é um indicativo da sua raridade cada vez maior - o bacalhau já está extinto em diversas áreas. O João sugere, nos comentários, aos que moram próximo do Pantanal um substituto, o pacu, que também é salgado como o bacalhau. Já a Flávia, sugere aos que moram na Amazônia o pirarucu, que também é salgado como o bacalhau.
    4) Só compre lagostas entre maio e dezembro. De janeiro a abril é a época de reprodução desses animais, e se alguém está vendendo lagosta recém-pescada nesse período, está burlando a lei, que proíbe em todo o território brasileiro a pesca da lagosta no período reprodutivo.
    5) Evite camarões e consuma-os apenas no período não-reprodutivo. No geral, a pesca do camarão ainda é feita com arrasto, atividade destruidora que joga fora muitos quilos de peixe não-consumível para cada pratinho de camarão coletado. Portanto, é um "desserviço" ao ambiente. Sendo o maior exportador de camarão o nordeste brasileiro, consumi-los por lá é ecologicamente mais adequado que em outras regiões do país. E, apesar de todos os pesares ecológicos, camarão é cultivável, o que facilita seu consumo (o desgaste ecológico da região onde são feitos esses tanques é outro papo mais complicado...) No mar selvagem, há diferentes espécies de camarão que são pescados para consumo e cada uma delas possui um período reprodutivo específico nas diferentes regiões do país. Nesse período a sua pesca é proibida pelo IBAMA. Para o camarão-rosa no extremo nordeste, o período reprodutivo é de março a maio, enquanto na Bahia e Espírit o Santo é de setembro a novembro. Os pescadores que dependem dessa atividade para viver são autorizados pelo governo a pedir seguro-desemprego no período reprodutivo, que cobre as perdas por não pescar. Já o camarão-sete-barbas se reproduz entre novembro e meados de dezembro no sudeste do país, sendo essa portanto a época para se evitá-lo. Não achei na internet uma lista clara do período reprodutivo de cada espécie consumida, portanto se alguém souber de tal informação, fico deveras agradecida.
    6) Evite salmão cultivado. E se possível, evite salmão em geral, já que ele já se extinguiu em muitas áreas do mundo. Sendo o salmão um peixe de águas gélidas, o salmão selvagem que se consome no Brasil é em sua maioria importado do Chile, o que requer transporte refrigerado em longas distâncias, o que aumenta a emissão de CO2 via queima de combustível fóssil, etc. O preço reflete a dificuldade logística da sua pesca, e por isso, as fazendas de salmão parecem tentadoras. Mas não se engane: o dano que uma fazenda de salmão causa ao ambiente é insano.
    7) Consuma preferencialmente os peixes e frutos do mar da sua região. Se você mora perto de rio, consuma peixes de água doce. Se mora perto do mar, consuma peixes de água salgada, de preferência comuns no seu litoral e pescados de forma artesanal, por pescadores de comunidades não envolvidos com pesca em escala industrial. Procure essa informação no órgão do governo estadual ou municipal da sua área que lida com questões de pesca, e vá à peixaria munido da lista adequada de peixes e frutos do mar da sua região.
    8) Verifique a espécie de atum ao comprá-lo. Nem todas as espécies de atum estão igualmente ameaçadas de extinção. Infelizmente, o atum azul (blue fin tuna, em inglês), espécie migratória presente apenas em alto-mar e preferido pelos grandes chefs de sushi do mundo, é uma das mais ameaçadas, exatamente pelo alto consumo de sushi no Japão. O Brasil, entretanto, parece ter atum em abundância suficiente para garantir o mercado interno - embora a reportagem linkada não diga que espécies exatamente. E sabemos que há espécies ameaçadas de atum aqui no Brasil, sim. E eu, na dúvida da procedência real, prefiro evitar atum.
    9) Preste atenção especial aos congelados. Principalmente animais sazonais, que congelados se tornam difíceis de identificar sua data de pesca - ou seja, em tese, você não sabe se o fulano da indústria pescou aquele camarão no período reprodutivo ou não. Dê preferência ao produto fresco e congele em casa, para consumo posterior. Assim você pelo menos sabe de quando o peixe realmente é.
Retirado fogão azul.

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